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domingo, 14 de outubro de 2012

Que eu seja o refúgio de alguém



Que eu seja o refúgio de alguém
Elisabeth Lorena Alves
Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia (Salmo 46-1).
Frente ao mar de angústia patrocinado pelo desespero mundial de enriquecimento, fama e cultura do “vencer e vencer doa a quem doer”, vemos muitos afundarem-se em suas dores sem serem notado pelos que passam por eles. As pessoas estão tão apegadas as suas próprias conquistas que passam desapercebidas por amigos e parentes que sofrem todo o tipo de pressão social e psicológica e mesmo assim nada notam. Hoje é comum ouvirmos dizer que alguém que morreu ou cometeu suicídio por causa da depressão não deu sinais, mas isto não é verdadeiro. As pessoas sinalizam sim suas neuras, seus sentimentos negativos, mas nós não estamos preocupados, assim não notamos e quando notamos, não damos a devida atenção. Afinal, para para ouvir alguém atrapalha os nossos próprios planos e a nossa corrida diária atrás do sucesso não pode ser interrompida. Classificar alguém de fraco é bem mais fácil.
Muitas vezes estamos ligados no automático. Tenho uma experiência – da qual não me orgulho – mas, que vou dividir com vocês. Em 2000 eu ocupava um cargo junto a Prefeitura de São Paulo e ao mesmo tempo fazia muitas outras coisas para a comunidade. Um dia em meu desespero, entre um escritório e outro, encontrei uma colega de trabalho e perguntei-lhe se estava bem. Ela desfiou um rosário de reclamações em meu ouvido e aquilo me atrapalhou. Quando ao fim do dia comentei com uma colega ela me deu razão para ter ficado chateada, mas ao ficar só, me peguei observando que na verdade eu agira errado. Ao perceber qe minha colega estava deprimida com problemas diversos e a maioria de fora do trabalho, deveria ter lhe dado ouvidos e conversado com ela, dado apoio. Muitas vezes ser ouvida com atenção é o melhor remédio que podemos dar a alguém. Isto é ser refúgio. Graças a Deus que esta colega não cometeu nenhum atentado contra a vida dela, mas houve algo ruim sim, que me marcou. Seu nervoso e sua falta de apoio deu origem, naquele mesmo dia, a sua exoneração de cargo e ela foi remanejada para outro setor. Só por eu não ouvi-la.
Detalhe: Eu que ouço todo mundo o tempo todo. Coloquei problemas passageiros em priori, deixando de lado a vida humana. Deixei de exercer uma atitude de amor, de misericórdia por orgulho apenas, por achar que meu trabalho era mais importante que uma pessoa.
Não fui refúgio.
Nosso defeito é sempre este: jogar nas mãos de Deus o que nós podemos fazer. Claro que a Bíblia e, mais precisamente o Salmo esta repleto de imagens de Deus como refúgio. Basta nos visitarmos algumas das páginas sagradas e encontraremos citações tais como: "Alegrem-se os justos no Senhor” e Alegrem-se todos os retos de coração" (Salmo 64:10), além de outros versículos (46-1) (II Samuel 22-3). Mas nós também, como herdeiros de Deus, como partidários do Reino Celestial, temos o dever de estendermos a mão aos que necessitam de apoio e buscam refúgio amigo.
Quando nos colocamos no caminho de alguém e ajudamos esta pessoa a encontrar equilíbrio, estamos fazendo algo mais além das palavras, estamos agindo e uma ação favorável retira uma alma da ruína.
Acredito que o salmista Davi sabia exatamente o que era ser refúgio para alguém. Pelo menos em duas oportunidades em sua vida, ele teve esta função na vida de alguém. A primeira vez ao permitir que sua música e seu dom acalmasse o coração do rei Saul, que vivia consumido por seus demônios interiores ao se afastar de Deus. Davi não temeu por sua vida e foi ao encontro do rei e ali tocava sua harpa, acalmando assim o temível homem que um dia ele substituiria no trono. Davi não temia por sua vida, agia como refúgio daquele homem confuso que já fora rejeitado por Deus, mas que aquele jovem ainda via como um ungido do Senhor. Anos mais tarde, já como rei, Davi agora é refúgio para o jovem Mefibosete, neto de Saul e filho de seu amigo Jônatas.
Vivemos uma época em que as pessoas estão buscando todo tipo de abrigo, pois a viol6encia, a falta de amor, a desesperança e o temor assolam a todos e viver em busca de refúgio, seja físico, emocional ou espiritual é uma necessidade social comum a todos. Que todos nós possamos nos lembrar de sermos luz nas trevas, pois ao iluminarmos alguém, estamos também dando o conforto necessário.
Que possamos repetir as palavras de Jesus: Aquele que vem a mim de maneira nenhuma lançarei fora (João 6-37), mas não só usar as palavras, mas estarmos sempre prontos a ser refúgio aos desesperados.

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