Que
eu seja o refúgio de alguém
Elisabeth
Lorena Alves
Deus
é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia
(Salmo 46-1).
Frente
ao mar de angústia patrocinado pelo desespero mundial de
enriquecimento, fama e cultura do “vencer
e vencer doa a quem doer”,
vemos muitos afundarem-se em suas dores sem serem notado pelos que
passam por eles. As pessoas estão tão apegadas as suas próprias
conquistas que passam desapercebidas por amigos e parentes que sofrem
todo o tipo de pressão social e psicológica e mesmo assim nada
notam. Hoje é comum ouvirmos dizer que alguém que morreu ou cometeu
suicídio por causa da depressão não deu sinais, mas isto não é
verdadeiro. As pessoas sinalizam sim suas neuras, seus sentimentos
negativos, mas nós não estamos preocupados, assim não notamos e
quando notamos, não damos a devida atenção. Afinal, para para
ouvir alguém atrapalha os nossos próprios planos e a nossa corrida
diária atrás do sucesso não pode ser interrompida. Classificar
alguém de fraco é bem mais fácil.
Muitas
vezes estamos ligados no automático. Tenho uma experiência – da
qual não me orgulho – mas, que vou dividir com vocês. Em 2000 eu
ocupava um cargo junto a Prefeitura de São Paulo e ao mesmo tempo
fazia muitas outras coisas para a comunidade. Um dia em meu
desespero, entre um escritório e outro, encontrei uma colega de
trabalho e perguntei-lhe se estava bem. Ela desfiou um rosário de
reclamações em meu ouvido e aquilo me atrapalhou. Quando ao fim do
dia comentei com uma colega ela me deu razão para ter ficado
chateada, mas ao ficar só, me peguei observando que na verdade eu
agira errado. Ao perceber qe minha colega estava deprimida com
problemas diversos e a maioria de fora do trabalho, deveria ter lhe
dado ouvidos e conversado com ela, dado apoio. Muitas vezes ser
ouvida com atenção é o melhor remédio que podemos dar a alguém.
Isto é ser refúgio. Graças a Deus que esta colega não cometeu
nenhum atentado contra a vida dela, mas houve algo ruim sim, que me
marcou. Seu nervoso e sua falta de apoio deu origem, naquele mesmo
dia, a sua exoneração de cargo e ela foi remanejada para outro
setor. Só por eu não ouvi-la.
Detalhe:
Eu que ouço todo mundo o tempo todo. Coloquei problemas passageiros
em priori, deixando de lado a vida humana. Deixei de exercer uma
atitude de amor, de misericórdia por orgulho apenas, por achar que
meu trabalho era mais importante que uma pessoa.
Não
fui refúgio.
Nosso
defeito é sempre este: jogar nas mãos de Deus o que nós podemos
fazer. Claro que a Bíblia e, mais precisamente o Salmo esta repleto
de imagens de Deus como refúgio. Basta nos visitarmos algumas das
páginas sagradas e encontraremos citações tais como:
"Alegrem-se os justos no Senhor” e Alegrem-se todos os retos
de coração" (Salmo 64:10), além de outros versículos (46-1)
(II Samuel 22-3). Mas nós também, como herdeiros de Deus, como
partidários do Reino Celestial, temos o dever de estendermos a mão
aos que necessitam de apoio e buscam refúgio amigo.
Quando
nos colocamos no caminho de alguém e ajudamos esta pessoa a
encontrar equilíbrio, estamos fazendo algo mais além das palavras,
estamos agindo e uma ação favorável retira uma alma da ruína.
Acredito
que o salmista Davi sabia exatamente o que era ser refúgio para
alguém. Pelo menos em duas oportunidades em sua vida, ele teve esta
função na vida de alguém. A primeira vez ao permitir que sua
música e seu dom acalmasse o coração do rei Saul, que vivia
consumido por seus demônios interiores ao se afastar de Deus. Davi
não temeu por sua vida e foi ao encontro do rei e ali tocava sua
harpa, acalmando assim o temível homem que um dia ele substituiria
no trono. Davi não temia por sua vida, agia como refúgio daquele
homem confuso que já fora rejeitado por Deus, mas que aquele jovem
ainda via como um ungido do Senhor. Anos mais tarde, já como rei,
Davi agora é refúgio para o jovem Mefibosete, neto de Saul e filho
de seu amigo Jônatas.
Vivemos
uma época em que as pessoas estão buscando todo tipo de abrigo,
pois a viol6encia, a falta de amor, a desesperança e o temor
assolam a todos e viver em busca de refúgio, seja físico, emocional
ou espiritual é uma necessidade social comum a todos. Que todos nós
possamos nos lembrar de sermos luz nas trevas, pois ao iluminarmos
alguém, estamos também dando o conforto necessário.
Que
possamos repetir as palavras de Jesus: Aquele
que vem a mim de maneira nenhuma lançarei fora
(João 6-37), mas não só usar as palavras, mas estarmos sempre
prontos a ser refúgio aos desesperados.
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